Documentário abordará a sub-representação de mulheres em defesa da Lei de Cotas e da paridade de gênero

Faltam pouco mais de 400 dias para as eleições de 2020. Mas, as cotas eleitorais que garantem 30% das candidaturas para mulheres podem não durar até lá. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deu declarações na última semana de julho prometendo colocar em votação depois do recesso parlamentar uma nova Reforma Política que vai debater, entre outros temas, propostas para reduzir as cotas eleitorais e acabar com as punições aos partidos. O objetivo é acelerar a votação para que essas normas já passem a valer no pleito de 2020.

Dentro desse cenário, quatro mulheres de Brasília produzirão neste segundo semestre o documentário independente Me farei ouvir, um grito de resistência e esperança em defesa da paridade de gênero e da promoção de mais mulheres na política. O projeto é sem fins lucrativos e a iniciativa não conta com recursos públicos. Por isso, as realizadoras estão com um financiamento coletivo aberto até o dia 12 de agosto pela plataforma do Catarse.

O intuito do Projeto, inicialmente, era o de promover uma democracia mais saudável suscitando o debate de porquê é tão difícil para mulheres se elegerem no Brasil. Afinal de contas, elas representam mais de 50% da população e, mesmo representando 30% entre os candidatos, nunca ultrapassaram a barreira de 15% dentro do Legislativo. Destas, apenas 13 parlamentares são negras e há apenas uma indígena. Os números que comprovam a subrepresentação são ainda mais desanimadores no Executivo.

Porém, com a possibilidade da nova Reforma Política, demonstrar as dificuldade não é o suficiente. Por isso, o documentário abordará os gargalos e labirintos que a democracia brasileira produz para dificultar o acesso de mulheres; mas também se posicionará em defesa e pela ampliação da Lei de Cotas e da paridade de gênero.
As realizadoras entendem que não há um futuro democrático para o Brasil sem medidas que garantam a representação das mulheres.

Ações assim possuem um efeito de contágio cultural, influenciando comportamentos e mudando estruturas sociais. 30 milhões de mulheres brasileiras sustentam suas famílias sozinhas. São, em sua maioria, mulheres pobres, negras e periféricas. A falta de representação e, consequentemente, políticas públicas voltadas para elas gera um ciclo vicioso de vulnerabilidade para as novas gerações – e isso gera impactos na vida de todos, homens e mulheres.

 

Realizadoras

Dentre as realizadoras do Projeto, Bianca Novais e Flora Egécia, do Estúdio Cajuína, carregam no currículo a realização de um financiamento coletivo de sucesso para o filme “Das Raízes às Pontas” (2015) – vencedor do júri popular do 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

O Estúdio Cajuína, desde 2010, está a frente de projetos associados às causas que marcam as vivências de suas idealizadoras, desenvolvendo pesquisas nas áreas de identidade de raça e gênero, ocupação da cidade e produção cultural. Em 2017, o Estúdio recebeu o prêmio de empresa atuante pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC) do
Distrito Federal, no eixo Culturas Afro-brasileiras.

Por outro lado, Dandara Lima e Bárbara Rodarte, da Düo Photo.Project, trazem a experiência de atuação em campanhas políticas desde 2012. Com experiências em produção de conteúdo, fotografia, edição de vídeo, gestão estratégica e de equipe para diferentes candidatos e candidatas, buscam dar vazão ao incômodo constante de ver
no dia a dia a sub-representação de mulheres na política.

Quem apoia

O financiamento coletivo do Projeto já conta com o apoio de nomes de relevância nacional. São madrinhas do filme a atriz e cantora Clarice Falcão; a escritora e ativista Nana Queiroz; a empresária e presidente do Grupo de Mulheres do Brasil, Janete Vaz; a artista plástica Camila Soato e a cineasta e youtuber sobre maternidade, Helen
Ramos. Organizações em defesa das mulheres como a União Brasileira de Mulheres (UBM), a ONG Artemis e o grupo de advogadas ativistas Themis também apoiam a iniciativa.

Além disso, mais de 20 artistas de diferentes partes do Brasil doaram trabalhos para o sistema de recompensas no Catarse. Entre elas, Camila Soato produziu obra exclusiva para o Projeto, “A queda do Patriarcado” (2019). Camila foi finalista da 6a edição do Prêmio Marcantonio Vilaça CNI SESI SENAI e ganhou o prêmio de Melhor Exposição Prêmio PIPA Voto Popular.

Além de Camila, há obras e reproduções de Alice Lara, Marcela Cantuária, Ana Matsusaki, Aline Valek, Gabriella Kolling, Sabrina Gevaerd, Clara Valente, Bruna Daibert, Mia Morais, Luisa Melo, Tayana Cruz, Mavi Dutra e Clarice Gonçalves. Esculturas assinadas por Guilherme Neumann e Lara Alcantara da marca Toco-Oco e cerâmica artesanal por Anália Moraes da Casa Dobra. As tatuadoras Elissa Rocabado, Deborah Rabelo, Sandra Cunha, Yara Floresta, Yara Floresta, Távia Jucksch e Gabriela Arzabe ofereceram sessões.

 

TUDO ou nada

O orçamento para o filme está estipulado em R$ 87 mil em modalidade TUDO ou nada e a campanha já está na reta final de sua arrecadação. Se o valor não for alcançado, todos os recursos doados serão devolvidos aos respectivos doadores. Afinal, não é possível produzir meio filme.

Para cumprir o objetivo de promover mais mulheres na política, a meta do Projeto será estendida para produção da cartilha Manual da Mulher Candidata. Um material que ensinará o passo a passo burocrático para que mais  mulheres possam se candidatar. Em 2018, as mulheres representaram 32% das inscrições para concorrer a cargo
eletivo.

Porém, 40% das candidaturas consideradas inaptas pela Justiça Eleitoral foi de mulheres. O principal motivo para inaptidão é o indeferimento por falta de documentação. Nessa categoria, a proporção de mulheres chega a 43% segundo dados do TSE.

Confira o financiamento e contribua: bit.ly/mefareiouvir

 

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